BUERAREMA: Ministério quer que Funai esclareça dúvidas sobre demarcação de terra indígena
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Quarta, 19 Fevereiro 2014 15:34
Disputa pela terra instalou na região uma situação semelhante à
verificada em outros estados, como Mato Grosso do Sul, com hostilidades e
confrontos entre índios e produtores rurais
A área identificada pela Funai ainda em 2009 mede 47.376 hectares (um
hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo
de futebol oficial). A disputa pela terra instalou na região uma
situação semelhante à verificada em outros estados, como Mato Grosso do
Sul, com hostilidades e confrontos entre índios e produtores rurais.
No último trimestre de 2013, um índio foi morto a tiros, um
trabalhador rural foi baleado durante uma ocupação e três professores do
Instituto Federal da Bahia foram agredidos após algumas pessoas
identificarem que um deles era índio. Na cidade de Buerarema, principal
foco dos conflitos, casas e veículos foram incendiados e prédios
públicos depredados durante protestos contra a criação da terra
indígena.
A pedido do governador Jaques Wagner, a Força Nacional foi enviada
para a região e o efetivo da Polícia Militar foi reforçado, mas houve
novos conflitos. As ocupações de propriedades rurais, segundo os
próprios índios, foi a forma encontrada para cobrar do governo federal
celeridade na conclusão da demarcação da terra indígena.
No último dia 10, o agricultor Juraci José dos Santos Santana,
apontado como uma das lideranças de um assentamento da cidade de Una,
foi morto em circunstâncias que continuam sendo investigadas. A morte
gerou novos protestos violentos, levando a presidenta Dilma Rousseff a
autorizar o envio de mais de 500 homens do Exército para tentar conter o
clima tenso na região.
Questionamentos a respeito dos critérios usados pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) para identificar uma área no sul da Bahia como
território indígena levaram o Ministério da Justiça a devolver o
processo administrativo e pedir esclarecimentos à entidade, paralisando o
processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.
Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o relatório da
Funai foi impugnado administrativamente pela consultoria jurídica do
ministério, que, após análise dos processos demarcatórios, identificou
alguns pontos que a fundação precisa esclarecer para justificar a
publicação, pela pasta, da portaria declaratória reconhecendo como
território tradicional indígena a área identificada pela Funai. Feito
isso, a última etapa para que a reserva tupinambá se torne uma realidade
é a publicação do decreto da Presidência da República homologando o
reconhecimento.
Cardozo informou que tomou conhecimento dos pontos controversos
durante reunião com o governador da Bahia, Jaques Wagner, em outubro do
ano passado. "Nessa reunião, foi apresentada uma série de impugnações
[questionamentos] ao laudo da Funai. [As alegações contra a demarcação
variavam desde] o estudo antropológico ter sido feito por uma
antropóloga portuguesa de maneira equivocada, até que a demarcação teria
sido arbitrária", disse hoje (18) o ministro da Justiça. "Após
recebermos o laudo, pedi à consultoria jurídica que o analisasse e os
consultores entenderam que a Funai tem que esclarecer alguns aspectos de
seu laudo", acrescentou Cardozo, assegurando que o procedimento é comum
em processos demarcatórios.
Por meio de sua assessoria, a Funai também informou que a devolução
de processos administrativos dessa natureza para o esclarecimento de
dúvidas é comum e que não significa, a priori, que a demarcação tenha
sido suspensa ou cancelada. A fundação tem 90 dias para responder às
solicitações do ministério, mas informou ainda não ter recebido de volta
o processo e, por isso, desconhecer os pontos que precisam ser
elucidados.
Agência Brasil
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