Uma brincadeira de mau gosto entre amigos comprovou que a maconha ingerida é muito mais potente do que quando fumada. Um
universitário de 26 anos teve um surto psicótico de 36 horas após comer brigadeiro misturado à droga. O rapaz, que passou um ano em
tratamento com antipsicóticos e chegou a ficar internado, tinha na urina sete vezes mais do princípio ativo da maconha (THC) do que
aqueles que a fumaram. O estudo, dos psiquiatra Jorge Jaber e André Charles, foi publicado na revista americana CNS Spectrum,
patrocinada pelo Colégio Internacional de Neuropsiquiatria. "Esse caso serve de alerta e chama atenção para o risco de surto psicótico.
Esse jovem poderia ter cometido suicídio para se proteger da forte sensação de perseguição. O surto também poderia ter evoluído para
esquizofrenia ou doença psicótica mais grave, o que não ocorreu", disse Jaber, do Colégio Internacional de Neuropsiquiatria e diretorgeral
da Clínica Jorge Jaber, especializada em dependência química. O estudante chegou à emergência psiquiátrica com quadro de
delírios de perseguição, paranóia, agitação e alucinações. "Ele dizia que seria assassinado por um enviado do demônio", conta Jaber. O
psiquiatra que o atendeu desconfiou de efeito de drogas. "Mas o rapaz era radicalmente contra o uso de substâncias tóxicas e discutia
com a familiares e amigos que faziam uso dessas substâncias. O médico era experiente e insistiu com os pais do rapaz." O pai do
universitário procurou os amigos do filho. Um deles confirmou que haviam tentado "pregar uma peça" no amigo, acrescentando
maconha à receita do brigadeiro. "Eles queriam que o jovem experimentasse maconha de uma forma ou de outra. O rapaz não sabia da
´brincadeira´ e abusou do brigadeiro. Quando ele começou a ´viajar´ e evoluiu rapidamente para o quadro paranóico, os amigos o
deixaram em casa e não contaram nada aos pais dele", contou Jaber, para quem o caso foi encaminhado. A clínica do médico tem
convênio com o Labdop, laboratório do Departamento de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), num estudo sobre
a concentração de maconha na urina ao longo do tempo (a fim de estabelecer parâmetros para o caso de dopping de atletas). A urina da
vítima do trote foi analisada e nela havia quantidade de THC sete vezes superior à da presente na urina daqueles que apenas fumaram
maconha. "Ele teve uma overdose de maconha", disse o médico. Ao longo dos dias, o princípio ativo foi eliminado, mas persistia no
organismo em quantidade superior àqueles que fumaram a droga. O estudante permaneceu três meses em tratamento psiquiátrico e
durante um ano tomou antipsicótico para evitar novo surto. "Há poucos trabalhos publicados sobre maconha usada por via oral. Mas
nesses trabalhos e nesse estudo feito por nós o que fica demonstrado é que a maconha causa mais problemas se for ingerida", afirmou
Jaber.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,maconha-ingerida-pode-provocar-overdose-e-surto-psicotico,20060619p63472
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